TERÇA FEIRA, 21 de junho

Os Princípios de Gestão da Caça no Reino Unido

A Fundação The Game & Wildlife Conservation Trust promove a Gestão da caça e as melhores práticas como uma força para o bem, para a Conservação da Natureza e melhoria ambiental dos territórios agrícolas, florestas, planícies e zonas húmidas. Ao estabelecer estes princípios, quer promover as melhores práticas e a gestão sustentável de caça que visam proporcionar um ganho real para a biodiversidade.

O ganho real de biodiversidade é um conceito inserido no Plano Ambiental de 25 Anos do Defra (Department for Environment Food & Rural Affairs) e é uma abordagem ao uso da terra que leva ao aumento da biodiversidade. Os princípios são projetados para vigorar e ter relevância numa ampla faixa de grupos de interesse, desde Gestores de Caça e Caçadores, até às Organizações de Conservação da Natureza, Governo e Público em geral.

Como desenvolveram estes Princípios?

Para promover as melhores práticas, produziram um conjunto de princípios em 2019, que foram apresentados e discutidos em 19 briefings privados realizados entre o outono de 2019 e a primavera de 2020, cada um com uma audiência de aproximadamente 30 zonas de caça, de diferentes tamanhos, e incluindo algumas grandes organizações de caça turística/comercial. Decorreu uma consulta on-line, por meio do site do G&WCT, durante maio e junho de 2020. Mais de 340 respostas foram recebidas, com mais de 90% de apoio aos Princípios.

Foram revistas as diretrizes acordadas internacionalmente sobre uso sustentável e biodiversidade. Muitos dos princípios alinham-se estreitamente com a Carta Europeia sobre Caça e Biodiversidade da Convenção de Berna. A Carta tem diretrizes para os gestores de caça, mas também regulamentos para que estes possam ajudar os gestores de caça a beneficiar a conservação da biodiversidade.

Esta Carta é baseada em dois importantes acordos da Convenção sobre Diversidade Biológica. São os Princípios e Diretrizes de Adis Abeba para o uso sustentável da biodiversidade e a abordagem ecossistémica para a conservação (Princípios do Malawi). A Carta sobre Caça e Biodiversidade e os Princípios de Malawi e Adis Abeba são apoiados pela IUCN (International Union for Conservation of Nature) que é a autoridade global sobre o estado do mundo natural e as medidas necessárias para o salvaguardar.

 

12 Princípios para a gestão da caça sustentável

  1. Biodiversidade. Todas as zonas de caça, cuja gestão seja assente em aves de caça selvagens, aves de caça reintroduzidas ou uma combinação de ambas, devem esforçar-se para alcançar um ganho real de biodiversidade nesses territórios.
  2. Paisagem. Através da gestão ativa da paisagem rural, a gestão eficaz da caça apoia o crescimento das populações de caça, permitindo uma cota de abate sustentável com benefícios positivos para outras espécies, evitando níveis populacionais que possam prejudicar outros usos da terra, como a agricultura, a silvicultura e a conservação da natureza.
  3. Densidades. As aves de caça só devem ser reintroduzidas e manejadas em densidades apropriadas às circunstâncias locais, para que haja um ganho ambiental real ao realizar tal atividade.
  4. Diversidade. A criação, gestão e, por vezes, a regeneração adequada do habitat é necessária para todas as espécies de caça. A manutenção desta diversidade crítica e adequada de habitats é uma característica dos conselhos e recomendações do G&WCT, com base em investigação e observação científica. Os habitats criados, regenerados e geridos para as aves de caça incluem florestas, sebes, margens de campos, culturas de cobertura para a caça, misturas de sementes para aves selvagens, charnecas e zonas húmidas.
  5. Tempo. O repovoamento de aves de caça no verão aumenta o número de aves disponíveis para caçar no outono e inverno. Os gestores só devem soltar as aves de caça em habitats que lhes permitam aclimatar-se rapidamente à vida na natureza, seguindo as diretrizes e recomendações descritas no Código de Boas Práticas cinegéticas e nos padrões da British Game Alliance.
  6. Desenvolvimento. Depois dos repovoamentos com aves de caça, os habitats devem continuar a ser melhorados para abranger suas necessidades durante todo o ano.
  7. Responsabilidade. As Zonas de Caça devem garantir que toda a caça própria para consumo humano seja consumida.
  8. Ciência. Os coutos de perdizes selvagens devem avaliar as quotas de caça calculando o rendimento sustentável com base nas contagens anuais das espécies e seguir as recomendações do G&WCT para o rendimento sustentável de caça selvagem.
  9. Sustentabilidade. A gestão de caça fornece um incentivo para financiar de forma privada a criação, recuperação e gestão de habitats em grandes áreas do campo especificamente para a vida selvagem – algo que geralmente é apenas incidental a outras formas de uso da terra, como a silvicultura ou a agricultura.
  10. Vida Selvagem. Os habitats criados e geridos para as espécies de caça   incluem florestas, sebes, margens de campos, culturas de cobertura para a caça, misturas de sementes e zonas húmidas. Há muitos outros benefícios da vida selvagem com esta melhoria de habitat. Juntamente com o habitat promovido e gerido para as espécies de caça, o controlo da predação e a alimentação suplementar são frequentemente aspetos importantes da gestão da caça. Essas atividades podem beneficiar uma enorme variedade de outros animais selvagens.
  11. Equilíbrio. O controle de predadores é realizado para reduzir a pressão de predação. Isto é especialmente importante na primavera, para reduzir os níveis de predação em aves, ninhos, crias em nidificação e durante o verão para proteger as aves jovens. Muitas espécies, incluindo várias de interesse de conservação, beneficiam do controle de predação realizado para conservar as espécies de caça.
  12. Controle legal de predadores. Os predadores visados ​​são generalistas comuns e bem-sucedidos, de modo que uma redução temporária dos seus números localmente não prejudicará a sua população ou estatuto de conservação. As atividades de controle de predação devem ser realizadas de acordo com as diretrizes das melhores práticas para garantir que sejam legais, humanas e eficazes. Em nenhuma circunstância, qualquer espécie protegida deve ser morta ilegalmente para proteger a caça, nem qualquer atividade de controle de predação pode afetar negativamente o estatuto de conservação de uma espécie.

 

O que é a Convenção de Berna?

A Convenção de Berna é um instrumento jurídico internacional vinculativo no domínio da conservação da natureza, abrangendo a maior parte do património natural do continente europeu e estendendo-se a alguns Estados de África. É a única Convenção do género a nível mundial e visa conservar a flora e fauna selvagens e os seus habitats naturais, bem como promover a cooperação internacional neste domínio.

O tratado também leva em conta o impacto que outras políticas podem ter sobre o património natural e reconhece o valor intrínseco da flora e fauna selvagens, que precisa ser preservado e passado para as gerações futuras.

Cinquenta países (incluindo o Reino Unido) e a União Europeia assinaram a Convenção e comprometeram-se a promover políticas nacionais de conservação, considerando o impacto do planeamento e desenvolvimento no ambiente natural, promovendo educação e informação sobre conservação e coordenando pesquisas. Aparentemente, muitas leis de vida selvagem/ambientais da UE usam o texto da Convenção de Berna palavra por palavra. Seria muito difícil para qualquer organização de conservação não apoiar a Carta.”

Texto retirado do site G&WCT “Os Princípios de Gestão da Caça no Reino Unido” e traduzido por João Grosso com tradução e adaptação livres.