TERÇA FEIRA, 20 de abril

O Meio Rural tem sofrido alterações, “esvaziando-se” de vida e pessoas.

O êxodo do Campo para os centros urbanos, deixou ao abandono a atividade agrícola e de proximidade que dava proteção, abrigo e alimento à fauna silvestre; o Campo, agora assim abandonado, transformou-se num matagal propício à explosão da população de ungulados adaptáveis como o Javali. E o Campo de tradição cerealífera, está a ser ocupado com culturas intensivas, lesivas da biodiversidade pela intensificação própria da monocultura.

A generalidade destas formas de exploração agrícola, ignora a presença da fauna silvestre e ocasiona perdas de insetos e de microfauna, fazendo surgir assim pragas, epizootias e zoonoses.

O afastamento das pessoas do Campo e do seu relacionamento biológico natural, leva-as a fazer juízos precipitados e pouco objetivos relativamente a estes problemas, tendo agora sensibilidades menos realistas.

Os Caçadores poderiam ser um grupo de assassinos, de malfeitores só pensando em matar os animais, cujo maior prazer seria matar; os Caçadores poderiam ser aqueles que, imbuídos do espírito de capturar todos os bichos, disfrutando, divertindo-se matando os que conseguissem encurralar!

Porém, essa imagem, essa visão está desatualizada!

Os Caçadores, são hoje, pelo contrário, os zeladores e utilizadores desse Campo abandonado; quando se instalam nesses territórios, onde a fauna selvagem foi abandonada e desprotegida, onde há muito ninguém se preocupa, encontram e aproveitam recursos hídricos esquecidos e criam ainda outros; desbravam e incorporam alimentação natural adequada; promovem o abrigo e a tranquilidade; vigiam, cuidam e protegem; acompanham, monitorizam e, no futuro, se for possível, colhem, caçando alguns animais.

E é injusto, o juízo que uma parte da sociedade faz, porque os Caçadores investem e pagam ao Estado, por cada hectare de terra que utilizam, para promoverem e conservarem deste modo, a qualidade de vida da fauna silvestre abandonada que, assim apoiada, tendo quem cuide e apoie a sua existência, cria um excedente biológico que permite poder caçar, monitorizando sempre, sem pôr em risco a sua sustentabilidade.

Atualmente, são os Caçadores os mais interessados na perpetuidade de todas as espécies silvestres, não só das cinegéticas, como também das suas predadoras! Não se pode proteger as espécies selvagens se não houver biodiversidade! Não é viável criar perdizes se não houver insetos! Não é possível manter uma população saudável de coelhos bravos sem predadores!

A Gestão Cinegética é hoje acompanhada e monitorizada pela Ciência, participa em inúmeros Projetos de Investigação Científica e colabora com várias Organizações verdadeiramente ambientalistas.

Na Natureza, as espécies de caça, são os animais selvagens mais estudados e conhecidos pela ciência, exatamente pelo interesse acrescido dos Caçadores na sua sustentabilidade e perpetuidade. A Gestão Cinegética é avaliada como uma atividade apenas extrativa, porém, a Caça contribui e aporta muito mais ao Campo do que retira.

Estudos científicos efetuados em várias propriedades rurais no Reino Unido, ao longo de mais de 30 anos, demonstraram, apresentando evidências, que as propriedades onde se aplicam práticas de Gestão Cinegética revelam um aumento exponencial da Biodiversidade existente e promovem uma melhor Conservação da Natureza. (Consultar a Fundação Game & Wildlife Conservation Trust)

O caso paradigmático do sucesso da reintrodução do Lince ibérico na Vida Selvagem no Parque Natural do Vale do Guadiana é disso o exemplo nacional mais recente. Este felino supersensível, quase extinto, tem a sua prolificidade assegurada em Zonas de Caça, em propriedades cujas práticas cinegéticas são reconhecidas.

O Caçador de hoje já não é o Homem/coletor/predador ancestral pré-histórico; o ADN do homem/caçador atual já não se justifica pela sua ancestralidade, mas sim pelo seu papel de gestor dos ecossistemas.

A atividade cinegética é assim ecológica, sustentável e é, também, garantia da saúde e equilíbrio dos ecossistemas, sendo a ferramenta para Conservar dinamicamente a Natureza.

A presença da Gestão Cinegética faz diminuir o risco de grandes incêndios rurais, pois o Campo não está abandonado, e é assim frequentado também no verão e durante a noite.

As Boas Práticas de Gestão Cinegética monitorizam e controlam episódios de malformações, de multiplicação e dispersão de doenças, de desproporcionalidades entre machos e fêmeas, entre juvenis e seniores, e os excessos de população de animais selvagens que ocorrem amiúde na Vida Selvagem.

Só por inconsciência, seria possível esquecer e abandonar estes fenómenos adversos que têm lugar no Campo e no Meio Natural;

A interrupção da Atividade Cinegética na última época de Caça, devido à COVID19, por exemplo, está a ter como consequência um aumento da população de javalis, começando estes a multiplicar prejuízos na agricultura, nos habitats da fauna e flora silvestres e mais acidentes rodoviários.

De facto, pode ser criticável matar animais e comer carne, todavia, Caçar é, sem dúvida, a forma mais ética, mais ecológica e mais sustentável de o fazer.

É a carne mais natural, livre de produtos químicos e em que o episódio rápido da morte do animal tem lugar sem stress e sem passar pelo sofrimento artificial do matadouro.

Os verdadeiros ecologistas, os verdadeiros ambientalistas, aqueles que realmente se preocupam com a Natureza, deviam aliar-se e entender-se com as Boas Práticas de Gestão Cinegética; ambos atuam na saúde dos ecossistemas e ambos vigiam e defendem a Conservação da Natureza!

Os verdadeiros inimigos, os que se devem combater, são aqueles que atentam contra tudo o descrito, destruindo a paisagem rural, poluindo e inquinando o ar, os solos, as águas das charcas e dos rios justificando apenas o enriquecimento isolado, ignorante e egoísta.

A Atividade Cinegética é uma das atividades mais legisladas em Portugal e na Comunidade Europeia e é, desde 2011, também ensinada formalmente a jovens certificando o nível IV do Quadro Nacional e Europeu de Qualificações, numa perspetiva da sua Educação para a Conservação da Natureza.

Ecologistas reticentes com a Atividade Cinegética, estão convidados a visitarem a Escola Profissional Alsud e a comprovarem, no local, o verdadeiro entendimento entre a Conservação e a Caça: o sucesso do Lince Ibérico, da Águia Real, da Águia Imperial, do Coelho Bravo e da Perdiz vermelha, coabitando nas Zonas de Caça do Parque Natural do Vale do Guadiana em Mértola…

 

João Grosso